Ontem aconteceu-me um episódio e eu pensei logo *Isto vai tãooo parar ao blog*, mas não estou com grande vontade de escrever portanto não sei como vai sair, deixe-mo-nos ir no percursor sombrio.
Introdução: A minha vida está compartimentada em várias esferas, como acredito a de toda a gente. E estas estão muito bem definidas e organizadas para mim e não se misturam todas umas com as outras. É a família, a faculdade, os amigos, o blog, o ser homossexual, a música, a fotografia, o cinema, a aldeia, Lisboa, etc. e tal. E estas esferas não se tocam todas umas com as outras, i.e., a família (ainda) não toca com a esfera homossexual, ou a do blog
(a minha mãe a ler as coisas que escrevo por aqui seria qualquer coisa), por exemplo, e a esfera dos amigos toca com a da faculdade, alguns deles com o blog, por aí fora. Há também uma espécie de trabalho que tenho e é algo que vou fazendo muito de vez em quando e que, por isso mesmo, tem a sua esfera própria, pequena e separada das outras. Ninguém ali adivinha qual é o meu
background, modéstia à parte, graças à atitude que ali tenho, e quando digo o que faço, o que estudei e estudo, surpreendem-se. Nenhuma destas esferas me define maioritariamente, como acredito assim seja com toda a gente. E penso que não exista ninguém, para além de mim
(mas eu sou o universo e o acesso total central ao e do mundo), que conheça todas as minhas esferas de forma directa. Basicamente, é aquela coisa adolescente de que ninguém me conhece verdadeiramente para além de mim. E eu não gosto que essas esferas se encontrem a não ser quando eu quero, quando faz sentido para mim. Gosto muito do facto de não haver ninguém que conheça toda a minha vida, pronto.
Avançando: Ontem lá fui ao tal trabalho, que vou fazendo muito de vez em quando (vêem como a esfera do trabalho não toca aqui a esfera do blog?), e andava por lá um moço que, falando depressa e bem, como uma das meninas com quem estava a travar uma relação de companheirismo disse: "Há gente muito chata". O moço não tem qualquer tipo de decoro social (e é uma coisa que eu acho tão importante), mas pronto tem 15 anos, estava com um grupo de amigos, pode fazer figuras e falar muito alto... Tudo bem. O problema é quando o miúdo de 15 anos se faz a mim. Com uma conversa tão explícita que eu só pensei *Eu com 15 anos nunca na minha vida faria isto, nem sequer agora com 21 anos de idade. Esta gente tem a escola toda muito cedo.
No me gusta* e ainda para mais numa situação de trabalho. A minha esfera homossexual estava a entrar na minha esfera do trabalho e não me parece nada bem, essa esfera não me define. Mas vamos lá à situação e a ver se eu explico isto com graça que é a única maneira de olhar para as coisas.
Situação: O moço senta-se perto de mim (ao meu lado) e das meninas com quem estava a travar uma relação de companheirismo por estarmos ali (foi a primeira vez que as vi e que falei com elas), e começa -"Que idade têm?" lá respondemos todos. [Ah, deixem-me salientar que quando eu não gosto das coisas não ligo nenhuma de forma activa. Portanto este episódio está cheio de falhas na minha mente. Outra coisa que faço é dizer que não a tudo, perguntar sempre "Hum?" de forma a que repitam a pergunta. Isto tudo para ver se a coisa morre ali, mas não foi o que aconteceu neste caso]. E o moço diz que tem 15 anos. Depois lá nos pergunta os nomes *Ou terá sido ao contrário? Anyway*... Depois, não sei como nem porquê
(foi porque nos virámos para outro lado de forma a tentar evitar o moço) começa a falar para mim em sussurro -"Olha, tu jogas noutra equipa, não é?" *Ham!? WTF!? Que péssima maneira de começar moço, deixa-me já dizer-te. Ai a minha vida, já não estou a gostar do rumo disto. Oh god, why? Faz de conta que não percebes, assim o moço percebe que não deves ser gay, uma vez que não percebeste o que é a pergunta* -"Desculpa, o quê?" -"Se jogas noutra equipa?" *Jogo noutra equipa? A sério? Responde que és do benfica...* -"Se jogo noutra equipa... Como assim?" Aqui o moço começa numa luta interna a pensar como deve fazer para transmitir a ideia que ele quer. -"Não estás a perceber a minha pergunta?" *Toda a gente percebe a tua pergunta meu caro, não estou é interessado em responder a essa pergunta, nem a ter esse tipo de conversa contigo. Coloca um ar confuso, encolhe os ombros, és tão tótó da aldeia, tão inocente, que não sabes nada desta vida* -"Não..." respondo. O moço ajeita-se, percebem-se as engrenagens cerebrais num conflito de, digo ou não digo? Este tipo está é a gozar comigo. *Vá-la, esquece o assunto. Esquece o assunto, se eu te disse que não percebo é porque não sei do que estás a falar, logo não sou gay...* -"Do que é que gostas?" *Ai, a minha vida. O que vale é que a esta já tenho resposta pronta. Ar confuso* -"Em relação a que?". Mais engrenagens a trabalhar -"Então... Do que é que gostas... És gay?" *Pronto, foi directo. Mente! Não vou mentir, não é algo que precise de ser desmentido, não é nada de errado ser gay. Mas não quero ter esta conversa, o tipo está a atirar-se a mim. Meu Deus, só tem 15 anos. Eu com 15 anos estava no meu cantinho... Minto ou não?*
E pronto, o post vai longo. E hoje vou trabalhar outra vez, tenho de me ir preparar para não chegar atrasado. O moço também vai hoje. Portanto, cheira-me que para além da continuação deste post e desta situação, vou ter a situação de hoje...
Legenda:*(Pensamentos)*