Tenho este post, com este título, já há algum (imenso) tempo.
A verdade é que a vida de todos nós vai avançando. A "blogaysfera" foi morrendo, como foi a "blogoesfera". Outras tendências do mundo digital também morreram. Outras já nasceram e já estão a perecer, outras a nascer. E assim vamos/vai continuar o mundo e o mundo digital.
Apesar de não escrever aqui com regularidade, sempre andei por aqui a ver as postagens da malta que por cá permanece e continua a querer partilhar, qual voyeur... Umas vezes mais assiduamente, outras menos.
Talvez na tentativa de manter uma magia e fantasia que sei não existir na realidade. Um mundo de possibilidades onde tudo era possível, passível e cor-de-rosa.
A verdade, também, é que a minha vida foi, também, avançando, feliz e infelizmente. Mas mais feliz, felizmente.
Contudo, a verdade é que a persona Ricardo, que tanto acarinho, ao longo desta evolução e crescimento deixou de existir. Já não sou o miúdo que acredita em relações da Disney para sempre (que seja eterno enquanto dure) ou em príncipes encantados e perfeitos.
Já sabia que a perfeição não existe, apesar de tentar negar este pensamento. Fiz as pazes e aceitei tal informação e tal realidade na minha vida.
Adaptamo-nos, evoluímos, crescemos, definhamos. Passei a ter amigos (daqui, da "blogaysfera" e fora daqui) com quem podia e posso partilhar as vicissitudes da "vida gay". Deixou de ser um escape necessário este blog.
Das últimas coisas mais pessoais que partilhei por aqui, que não fosse exclusiva de um lado gay (se bem que eu não existo sem o meu lado gay, cada um com as suas), foi a procura de emprego. Após a faculdade, novinho e fresquinho, começou a busca de emprego. Onde continuava a ver tudo a cor-de-rosa e cheio de ínfimas possibilidades boas e maravilhosas. Elas existem, claro, mas não são as únicas.
Lá encontrei um emprego, daqueles mais a sério, em que até se desconta para a segurança social. Durou duas semanas (uma delas de formação :D), há valores que não podemos prescindir e temos de saber quais os nossos limites. Mas esse foi um dos meus primeiros abalos. Incluiu choro e tudo, a perspetiva de ter de voltar para casa dos meus pais e para a aldeia. Que faz parte de mim e não vai deixar de fazer.
Depois veio outro emprego, no meio de uma procura constante, com alguns momentos ideais e de possibilidades maravilhosas e cor-de-rosa. Este emprego era não tão mau, bom posso até dizer. Ainda que não ideal.
Mas valeu-me imenso. Uma verdadeira escola de aprendizagem. Muito trabalho. Muita dedicação da minha parte (a nossa educação é tramada e há coisas das quais não conseguimos fugir). Uma equipa de colegas fantástica (até hoje não encontrei outra equipa assim e duvido que volte a encontrar), com uma supervisora burra, burra, burra... Não podemos nem devemos chamar nomes às pessoas, eu sei(!), mas ela era. Coitadinha. Espero que já não seja (crescemos, evoluímos). Teria dado bons momentos, divertidos, de partilha aqui no blog. Muitas horas extra. Muito acordar muito cedo. Muito andar cansado. E uma sensação da minha parte de estar a emburrecer. Não fazia o que tinha estudado. Não me preenchia verdadeiramente. Mas era um trabalho, não tão mau, bom posso até dizer.
Chegou a altura de, no meio desse trabalho, procurar outras oportunidades. Dentro do mesmo género do que já fazia ali, ainda que um passo acima e não dentro do que estudei ou me via fazer eternamente enquanto adulto que tem de fazer coisas (Blhack!).
Porquê fora da minha área de estudos? Porque, por conta dos meus valores, não entreguei uma tese de mestrado que não me satisfazia, com um orientador que não me satisfazia e que queria que eu o satisfizesse. A faculdade também queria outro tipo de satisfação (provavelmente ainda quer, mas por enquanto tenho essa porta cerrada e não tenho coragem, nem paciência, de a abrir novamente) e eu, por conta dos meu valores, não fui na cantiga. Lá se foi o mundo cor-de-rosa.
No meio dessa procura de passo acima veio uma oportunidade de trabalhar na minha área, não bem no meu percurso de estudos. Mas num percurso de estudos paralelo que fui (e ainda vou) desenvolvendo. Informei o meu local de trabalho com não sei quantos meses de antecedência (pelos valores que tenho) e um mês antes de iniciar o novo emprego mandam-me embora (sendo a pessoa que mais sabia do serviço que fazia) para ir gozar férias e horas extra e não terem de me pagar, assim, mais um ordenado ou qualquer valor extra. Lição aprendida.
Um mês ou dois de penúria.
No novo emprego acabo por ficar com o projeto apenas para mim, porque o anjo que me levou para lá, afinal, não podia/queria continuar como estava esperado. Muito trabalho. Muita aprendizagem. Muita dedicação. Muito ganhar dinheiro (recibos verdes pela primeira vez sem necessidade de descontar no primeiro ano). Muito poupar. Muito ganhar mau feitio (antes não tinha, confesso, só uma pontinha). O mau feitio veio com o sentimento de "podem mexer com tudo, menos com o meu trabalho" - a nossa educação é tramada. Dentro desse emprego, a oportunidade de passar a contrato e ganhar menos. Mais estabilidade, menos dinheiro. Escolha acertada tendo em conta a atual situação que vivemos. Mais trabalho. Mais (muito mais, ainda mais) responsabilidade. Mais dedicação. Mais a certeza de saber o que ando a fazer. Mais pessoas. Mais aprendizagens. Mais conselhos e mais aconselhar. Mais horas. Mais cansaço. Mais felicidade. Uma equipa não tão boa. Com mais pessoas e mais feitios. E há gente de merda meus amores. Mas há também gente maravilhosa.
Mais formação. Mais pós-graduação. Mais crescimento. Mais pensamento. Um novo projeto meu e só meu. Com ajuda e conselhos de boas pessoas que também fui encontrando.
Talvez a possibilidade de me tornar efetivo. Não sei se quero, confesso. Mais estabilidade, eu sei. Mas começo-me a sentir sem possibilidade de aprender ou de crescer mais. Não sei por onde posso crescer mais ou se posso crescer mais. Não sei se quero amarras, mais dedicação.
No meio de tudo isto o Ricardo foi-se. Mas não o consigo enterrar. É me terno e ser-me-á eternamente terno, eternamente eterno, eternamente meu, eternamente eu.
Vamos ver como evoluo, como cresço, como definho. Mas preciso de mais. Não sei do quê, mas de mais.
Acho que faz parte de nós, desta coisa de ser humano, sermos eternos insatisfeitos. Quando estamos satisfeitos, apagados, acostumados, encostados, talvez nos tornemos outra coisa que não humanos.
Talvez isto me passe e daqui a uns tempos tenha outra visão.
Não é uma promessa de regresso. É um espasmo de um morto. Vamos ver.