Confesso que o filme me deixou inquieto. Inquietou-me como me inquietam as grandes histórias de amor. Como inquieta quando somos colocados face à vida. A uma vida feliz, mas que, como qualquer vida, tem sofrimento. (O truque é não desistir, parece-me.)
O Joaquim Pinto disse na apresentação do seu filme
E Agora? Lembra-me, que fui ver com o
Arrakis ao Queer, que este era um filme feliz.
E é. É um filme cheio de amor e tem uma esperança nostálgica ténue, mas vibrante. O problema é que onde existe esperança algo não está bem. Há uma tristeza.
Gostaria de saber se o Joaquim teve alguma espécie de formação filosófica. Pode não ter tido, não se precisa, basta viver e viver consciente de algo como ele vive e ler (O Nuno tem as
Confissões de Santo Agostinho, livro que Joaquim se recusa a ler, ou recusou), pensar sobre as coisas, ver filmes, ouvir música, passear...
Não nos lembramos da morte. Isto é, estamos vivos, sabemos que as pessoas morrem, que podemos morrer a qualquer instante, mas "agora ainda não", é este pensamento que o "autómato" nos traz. *
A lembrança da morte não nos é marca constante ou, pelo menos, não a todos. Se fossemos constantemente conscientes de que as pessoas que amamos morrem, não viveríamos, estaríamos reunidos numa sala com quem amamos a absorver aquelas essências que a qualquer momento se podem apagar. Estar afastado de alguém que amamos e que pode morrer a qualquer instante sem que estejamos lá, essa é uma consciência atroz. Será igualmente atroz a consciência de que podemos ser nós a deixar quem amamos, que podemos não estar aqui com elas, a aproveitá-los, a amá-los.
A vida de Joaquim está marcada por essa presença constante. Ele sabe-o. Sabe que a qualquer momento pode não estar aqui, com os cães, com o Nuno. (A quem ele agradece por ter conhecido e por ter na sua vida). Ao Nuno a quem vemos agradecer sempre que este lhe dá a injecção que contem a medicação ainda em testes. É uma pequena coisa este "obrigado", mas não sei, isto transmite-me um gesto de amor, profundo. Este filme lembra-me o
José e Pilar. Nota-se na forma de captar a imagem que conheceu João César Monteiro.
Não o considerei um documentário sobre as doenças que Joaquim tem e que tenta combater. Ele que dá um contributo enorme, o seu próprio corpo, a sua mente, no combate a estas doenças. Não o considero um documentário sobre as doenças porque falta mais informação sobre elas e sobre os ensaios clínicos em que está submetido. Mas é também natural que não possa dar mais informações, são ensaios experimentais. Está ali muito mais que isso. Está uma história de amor. Está a vida de Joaquim, a sua consciência do que se passa, ainda que ele não saiba conscientemente que a tem. (Não se lembra de várias coisas de que filmou, devido aos efeitos do medicamento).
Acho que é um documentário sobre uma vida que incluí uma história maravilhosa de amor.
E agora? E agora que eu tenho esta doença que me lembra constantemente da morte, que está aqui presente e me é lembrada? Não me esqueças. Amo-te.
Lembra-me. Lembra-me, porque te amo. Acho que é isto que Joaquim Pinto nos transmite. Pelo menos a mim assim é.
Ah, caraças! Vejam o filme. É maravilhoso. É extenso, mas é natural que o seja. Eu pensava, como é que se acaba um filme destes? Como é que se coloca um fim a este registo. Quando, como, terminar este filme?
Embora extenso é inquietante, é maravilhoso, é feliz, é triste, é nostálgico. É uma história de amor sobre a vida.
E agora? Lembra-me.
* Eu sei que o texto peca pela sua confusão. Que falta um desenvolvimento intelectual. Mas não farei aqui um ensaio filosófico. Não quero trazer o meu lado, a minha face, intelectual para o blog. Essa é explorada noutros sítios. Quero apenas dar a conhecer o filme e recomenda-lo.