sábado, 5 de setembro de 2015

A mariquita e o call center

Eu, fraco, me confesso: estou a pensar muito seriamente em sair mais depressa do call center do que entrei. 
Eu sei que não posso mudar o mundo. Eu sei que a culpa não é minha. Eu sei que faço apenas o que me mandam e que não vale a pena stressar. Eu sei que as pessoas até podem não ficar com uma má impressão minha, mas sim da empresa. Mas a verdade é que já chorei por causa desta merda, mais do que uma vez. E se há coisa que eu não faço é chorar, fico feio.
Eu sei que não tenho de me preocupar, não me pagam para isso. Mas a verdade é que me custa imenso, sinto que estou a dar o meu nome e a minha voz para enganar pessoas. Deito-me a pensar nas pessoas e acordo a pensar nelas. Sinto-me stressado durante aquelas horas, uma tortura. Quero trabalhar, trabalhar a sério. Fazer as coisas como devem ser. Não quero andar a entupir um call center com trabalho desnecessário e clientes descontentes porque é tudo normal, não podemos mudar as coisas e depois habituamo-nos. Não me quero habituar. Custa-me imenso abandonar aquilo porque sinto que é uma falha. Que estou a falhar porque não aguentei trabalhar, na merda (pardon my french) daquele trabalho. É um trabalho num call center e acho que vou desistir daquilo e dedicar-me à tese que isso é que faço bem. 
Ainda ouvi nos meus primeiros dias, quando disse à supervisora que nunca tinha trabalhado em call center: " a sério? Olha que não parece". Sinceramente, não me soou a elogio. 
E eu que quando era miúdo queria era crescer e ser feliz. 



13 comentários:

Renascido disse...

Ao ler o teu texto, lembrei-me dos desabafos de uma amiga que tb já teve o teu trabalho. E ela disse isso na altura e ainda lá ficou uns 4/5 anos.

Força aí!!!!

Eolo disse...

Que tipo de call-center é? Vendas?

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Como é que conseguiu?

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Não. Isso é que me deixa balançado. Nem um suposto "apoio" ao cliente consigo aguentar

Luís disse...

Ricardo revejo-me no que escreveste.
Só quem já passou por um cal-center consegue entender o quão horrível aquilo é.
Também eu senti que falhei por ter desistido, mas mais vale mantermos a nossa sanidade mental (coitados daqueles que não têm alternativa...)

O Anfitrião de Lisboa disse...

Ia a dizer para deixares vendas e ir para apoio ao cliente...mas sendo assim, não sei que te diga!

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Opá, eu até acredito que noutros lados se faça verdadeiro apoio ao cliente. Ali não me parece. Espero, pelo menos, que os restantes serviços de apoio ao cliente não sejam aquilo. O meu problema não é ouvir pessoas aos gritos a reclamarem é aquilo cair praticamente em saco roto e dizermos ás pessoas que está tudo bem, não se preocupe. É o facto daquilo não estar nada organizado... Enfim, no fundo trata-se apenas da minha incapacidade não conseguir lidar com aquilo

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Pois, é nisso que estou a pensar. Manter a minha sanidade mental apesar de sentir que estou a falhar. E olha que não é algo que faço de ânimo leve.
Há sempre a possibilidade de ir cavar couves e feijões.

K. disse...

Ricardo, não é suposto sentires isto com o teu 1º emprego. Sai daí, procura outra coisa.

O Anfitrião de Lisboa disse...

Então como estão as coisas??? Mais calmo??

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Tens toda a razão K. Foi o que fiz :)

Ricardo - Uma Outra Face disse...

Anfitrião, as coisas estão bem e estou de facto mais calmo.
Tive mesmo de me despedir e ainda bem. Não dava para continuar a ir dormir a pensar nas pessoas, acordar a pensar nelas e fazer a tese...
Enfim

Lobo disse...

Percebo perfeitamente. Também teria extrema dificuldade em trabalhar num...