Continuação: *(...) Minto ou não? Posso sempre perguntar qual é a relevância da pergunta... Nah! Isso seria dar mais conversa, teria de falar mais com ele e eu não quero. Não há nada de errado em ser gay. Não tens de mentir. Estão a fazer-te uma pergunta de forma directa.* -"Sim, sou." Sorrio. -"Ah, pois. Eu olhei para ti quando chegaste à sala e pensei que [e agora não tenho a certeza se foi esta, novamente, a expressão utilizada] podias jogar na outra equipa..." *Wtf!? Tenho algum símbolo néon na testa a dizer GAY? Se calhar ando marcado como o gado. Os bois é que têm brincos amarelos...* "... mas depois deixei de te ver e pensei que já tivesses ido embora com os outros." Ele aqui deve ter ficado a falar sozinho porque não me lembro de ter dito nada, devo ter sorrido e acenado.
Virei-me, novamente, para as meninas. Mas ele desistir que é bom? Tá quieto, e lá vieram as perguntas. [E agora não tenho a certeza da ordem em que foram feitas, mas vou colocando à medida que me for lembrado e achar que fazem sentido]. -"Tu és tímido, não és?" *Não, não gosto é de ti e de falar da minha vida* encolho os ombros. -"Mais ou menos, sim." -"Então e que tipo de homens gostas?" *Depende. Mas mais velhos, geralmente. Tu, por exemplo, nunca me interessaria por ti... De que tipo de homens gosto? De que tipo de homens gosto!? Depende, depende muito, do homem. Não há características que definam um tipo de homem que goste.* -"Depende muito." Sorrio -"Então e eu, pareço-te que sou...?" *Ai a minha vida! Este agora quer mesmo conversa. Porquê, senhor? Porquê? Ora bem, eu também me lembro de ti, desde o principio da tarde, que tu fazes para notarem a tua presença. Tendo em conta as tuas figurinhas, sim, pensei que serias gay. Ai, mas não lhe vou dar conversa. Eu digo que sim, ele pede um porquê e eu não estou para isso. Mas eu quero lá saber se tu és gay ou não. Não estou interessado.* -"Hmmm... Sei lá. Não. Não é o que eu penso quando olho para alguém. Não é o que eu quero saber." Depois foi dizendo qualquer coisa sobre as pessoas não perceberem (ou perceberem) que ele é. Ai! As pessoas falam muito e eu não quero saber e desligo. Mais uma vez sorrir e acenar. -"És mesmo tímido." afirma. *Mau car*lho!* -"Não, não tenho é uma necessidade de grande convívio com as pessoas." *Isto porque não gosto delas, especialmente de ti neste momento. Percebe a indirecta.* -"Então e fazes o quê?" *Não, claramente, não percebeu* Lá lhe disse em que mestrado estou e o que tinha estudado na licenciatura. -"Ai! Não pareces nada. Não tens nada ar..." *Wtf!? Mau! Mas qual é o ar!? Já me está aqui a ofender. Deves. Pergunto ou não qual é o ar? Não, calma que não queres dar conversa.* Levanto o sobrolho -"Pois..." Encolho os ombros. Sorrio -"Então e namoras?" *Ai a minha vida. Lágrima interior. Já está a querer saber tanto da minha vida quanto eu. Mas agora tenho de partilhar... Minto ou não? Se lhe digo que não ainda tenta alguma coisa. Mais vale dizer que sim e a conversa morre aqui. Se estou comprometido não quero nada com ele.* -"Sim." -"Há quanto tempo?" *Ai o car*lho! Cusco pá. Chato! Agora há quanto tempo é que digo que namoro? Isto tem de ser coerente. Se dizer pouco tempo é frágil, 3 meses. Não. 1 ano? Nunca namorei um ano, é muito tempo para aguentar a mentira. Não posso dar a entender que menti. 6 meses? Parece-me melhor...* Enquanto este diálogo ocorre na minha mente coloco um ar pensativo e começo a contar pelos dedos. [Sabe Deus que sou péssimo para datas e isso não é mentira, há que enganá-los com a verdade]. Conto seis meses pelos dedos. Vou pensando em que mês teria sido o início do namoro, caso ele pergunte ou tente verificar a verdade. Ele ri-se com a espera e por eu estar a contar pelos dedos. Volto a contar pelos dedos e riu-me. Só mesmo em jeito de confirmar há quanto tempo namoro. -"6 meses." Respondo. -"E como é que é o teu namorado?" *Mau! Agora quer saber como é o meu namorado? Era o que mais me faltava. É o meu namorado, não o descrevo a ninguém. Sou péssimo a descrever pessoas, não sei. Agora para além de se atirar a mim quer atirar-se a ele? Era o que mais me faltava.* -"Mas porquê? Não vou descrever. Não faz sentido..." Ri-se -"Então e... Não queres ir dar uma volta por aí?" -"Não." *Então mas eu digo que tenho namorado e ele pergunta-me na mesma se eu quero ir dar uma volta com ele!!? Deus me livre. Wtf???* -"Ham... Pois, era só para curtir." Sorriso amarelo da minha parte, bad poker face. Volto a ignorar o gaiato. -"Ah, e o que é que és? Gay ou bi?" -"Gay." Chamam-me, afasto-me. -"Sabes o que isto é?" Levanta dois dedos fazendo o sinal de paz. -"Paz!?" *Deve ser um qualquer gesto em código que eu não percebo. Oh God, why?* Ri-se -"Não." Encolho os ombros. Ignoro o miúdo. -"Essa menina ao teu lado é a tua melhor amiga?" *Yha! Tendo em conta que a conheci hoje.* Eu e ela rimo-nos -"Não...." Pergunta-me pelo piercing -"Doeu muito a fazer?" -"Não, a fazer não dói nada." *É tão giro sentir a agulha a furar a pele, depois a cartilagem e pele outra vez.* Mas não digo isto para não dar conversa. -"Quanto custou?" *Ai! Que seca páh.* -"25€. Mas não é este o piercing que põem..." -"Pois, é um com uma bolinha, não é?" -"Sim." -"O teu é redondo. Gostas mais de coisas redondas não é? Eles acabam todos por serem redondos..." *Que é isto? Alguma tentativa de piada peniana que eu não entendi?* Encolho os ombros, sorrio e ouço a rapariga ao meu lado em voz alta -"Há gente muito chata. Porra!" Riu-me. Passado algum tempo: -"Ah, não te preocupes. Não conto a ninguém." -"Sim, tudo bem." Sorrio. Somos entretanto chamados. Passado algum tempo, noutro espaço: -"Sabes, não tens de ter vergonha e não deves ligar às pessoas que gozam." Ar confuso -"Mas ninguém me goza..." -"Não aqui, lá fora..." Levanto o sobrolho -"Ah, sim. Eu sei..." *Wtf? Este deve querer ensinar-me alguma coisa. Deves saber alguma coisa da minha vida que eu não sei. Odeio que as pessoas façam pressupostos acerca da minha vida. Se não fosse o facto de eu não gostar de ti, até gostava de te dar a conhecer o meu blog para perderes essa imagem que estás a criar de mim e me deixares em paz.* Ignoro o miúdo novamente, viro costas. Passado algum tempo -"Alguém sabe da tua família?" -"Não". -"Nem a tua mãe?" *As mães sabem sempre* penso. -"Não." Ri-se -"Nem desconfiam?" *Mas sei lá eu, chato. Não devem ser parvos* Encolho os ombros -"Não." -"Mas devias contar." *Mas este agora quer-me dizer como é que eu devo viver a minha vida ou quê? Raça do miúdo* Ar confuso -"Porquê?" -"Oh, quanto mais tempo passa. Para não os andares a enganar." *Mas eu lá ando a enganar alguém! Deves mesmo saber alguma coisa da minha vida. Tadito!* Volta a repetir o -"Não te preocupes, não conto a ninguém" e faz o gesto do silêncio levando os dedos aos lábios, ri-se. Eu sorrio e afasto-me. Só não fugi porque me ficava mal.
Ah! para quem, como eu, não sabe: o tal gesto da paz quer dizer que é bi, soube isto no dia seguinte. Disse-me, novamente, que não me tinha de preocupar e perguntou-me se me lembrava da conversa do dia anterior ao qual eu respondi -"Sim." -"Então isto (faz novamente o tal gesto da paz, mas desta vez mais perto da boca) quer dizer Mi." Eu-"Mi!?" -"Sim, não sabes o que é?" *Realmente, apesar de estar cansado de que tu me aches idiota, não sei. Mi!? Mas será que a criatura quer dizer Minete? * -"É minete?" Mas ele não ouviu, apenas viu a minha cara que expressava confusão. Eu -"Ah! Bi!" *Who cares?* -"Sim, eu sou bi... Mas não te preocupes, não conto mesmo nada a ninguém." -"Okay, tudo bem." Fiquei também a saber, no dia seguinte, que o moço namora porque uma rapariga lhe perguntou se aquele anel era de comprometido e ele respondeu -"Sim." Que namorava com não sei quem da turma e a rapariga lá lhe disse que o tinha de estimar bem. Ou seja, namora, eu disse-lhe também que namorava e ele queria curtir comigo na mesma. *Deus me livre e guarde de tal sorte. Credo!*
Conclusão: As coisas que me "encanitam" nesta história são: a falta de decoro social, o desplante de um jovem de 15 anos. O facto de, mesmo depois de eu lhe ter dito que tinha namorado, me perguntar explicitamente se eu não queria curtir com ele, agravante o facto de também namorar. O facto de achar que me conhecia e que podia tirar ilações da minha vida e de como devo vivê-la. Devido ao facto de eu não falar abertamente da minha esfera homossexual com ele levou isso como sendo timidez e que devo ser, no fundo, uma grande bicha armariada. Mas eu agora tenho de falar da minha vida com gente que não quero? E também não gosto que ele pense que agora partilhamos um grande e especial segredo, porquê não o é.
Mas onde para a boa educação desta gente? O respeito pelo outro? E por si, diga-se de passagem. Eu alguma vez, namorando, ia curtir com um estranho? Se esse estranho namorasse então... Outra que não gostei: depois de me ter perguntado quando voltava a trabalhar e de lhe ter respondido -"Ah. vais ficar cheio de saudades minhas" (ou algo do género) ao que eu respondi com um tom irónico -"Claramente!" -"Claramente (repete). Agora já pareceste [o que eu estudo]... Sou muito chato não sou? As pessoas queixam-se. Já estás farto de mim?" E eu rio-me...
Legenda:*(Pensamentos)*
Como diz a minha mãe: «Cresce e aparece!».
22 comentários:
por essas e por outras tenho menos capacidade e paciência pa aturar pessoas...é assustadora a estupidez reinante nas mentes de certas criaturas...ainda assim fiquei com a sensação que ele devia ter algum atraso mental, patologicamente falando...que horror...não teria tido a paciência que tiveste, não mesmo!
Ai, é um chato! Daqueles que acham porque se afirmarem, podem dar conselhos às outras pessoas. Tens uma paciência.......... de santo!
tenho tanta pena de ti xD até a mim me apeteceu mandar um banano ao gajo e só de ler haha
Tu realmente tens uma paciência de santo, vais andar a sofrer, cada vez que se cruzarem no trabalho, esta visto! Eu não me queixo do texto de todo.
podias adoptar o rapaz, assim educavas o moço :)
Daqui depreendo que tanto tu, como eu, precisamos de um dicionário de linguagem gestual 2014 ;) boa sorte para outros "encontros de 3º grau" ;)
Só de ler fiquei com vontade de torcer o pescoço ao moço. Também sou como tu, tenho muita paciência, mas esse tava mesmo a precisar que alguém o mandasse...
paciência de job e muito educado és tu. eu mandava-o meter-se na sua vidinha e ia à minha.
e mesmo assim deste-te a conhecer demasiado a um estranho.
Olha, continuo na minha. Uma chapada bem forte e daquelas bem pesadas não lhe tinha feito mal absolutamente nenhum...
Assim, sim! Vês não custou nada!
O miúdo é mesmo melga. E de uma falta de educação enorme. lol
Mas não deixa de ser um bocadinho cómica a história! :D
Opá, o moço não tem nenhum atraso mental. Acho que é aquilo a que se chama adolescência, hormonas aliado a uma falta de decoro social...
Bem, não ia perder ali a paciência, sempre tive de ter muita e acho que vou continuar a precisar dela.
Hahahaha pois, é capaz de ser isso.
Nossa, que violência Kyle, mas pensava que o querias para ti? :P
:D Espero bem que não.
Ainda bem que não te queixas, espero que tenhas gostado.
Eu? Não me parece que tivesse muito jeito para tal tarefa, para já não falar de que não estou interessado nisso xD
Se encontrares algum que ensine esse tipo de gestos avisa-me, mas também não sei se estou mesmo interessado em sabê-los...
Obrigado Pedro :)
Hahahaha pois está, mas as pessoas lá vão dizendo que ele é muito chato...
É exactamente isso de me dar a conhecer que não gosto, disso e que por eu ser gay é a única coisa que há para saber acerca de mim e que toda a minha vida gira em torno disso, dessa esfera...
Credo, que violência Horatius. Como é óbvio não lhe ia bater, tentei dar a menor conversa possível e assim manterei... :)
:D
Não, não deixa de ser uma história cómica. A ideia é mesmo essa, é a melhor maneira de olhar para as coisas
LOLOL Mas que grande paciência LOL
Hahahaha teve de ser xD
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